O que é a crise (parte 2/2)


Pergunta: O que é a inflação?
Resposta: A inflação é um imposto feito à população.

Pergunta: Como se resolve a inflação, se para a combater é criada mais inflação?
Resposta: Não resolve, a inflação existe para crescer e valor do dinheiro na forma de poder de compra irá sempre baixar, e isto é algo impossível de parar.

Se todos nós incluindo os governos pagassem as suas dívidas, não havia dinheiro em circulação.
Dinheiro é dívida e a dívida é dinheiro.

A perda de poder de compra e a existência de dinheiro através da dívida, faz com que a população tenha de competir no mercado de trabalho de maneira a retirar mais dinheiro do existente para poder sustentar o seu nível de vida.

Agora vem a parte mais gira. Os juros.
O dinheiro que o Estado pede ao banco central, o dinheiro que pedimos ao banco, todo tem como base contratos sobre os quais temos de pagar juros. Se o simples facto que já referi de que se todos pagassem as suas dívidas, não haveria dinheiro em circulação, os juros é dinheiro que tem de ser pago mas que não existe, pois todo o dinheiro é a dívida, os juros são uma dívida sobre a dívida. É isto que faz com que a inflação nunca desça e quando um governo diz que desceu mente com todos os dentes que tem, pois o que o governo faz é criar mais dinheiro (mais dívida), que assim que entra em circulação parece reduzir a inflação, pois há mais dinheiro, mas na verdade há também mais dívida e a inflação irá dar sinal de vida pouco depois.

Sempre que a verdadeira inflação se mostra, empresas abrem falência, pessoas ficam mais pobres e tudo porque mais dinheiro é mais dívida, mais dívida é mais dinheiro mas tudo é mais juros para os quais não existe dinheiro que chegue no mundo. Os juros da dívida do governo é pago através de um imposto a que demos o nome de IVA, os juros das nossas dívidas... bem... desenrasquem-se é a palavra mais correcta.

A crise não é mais do que dizerem que não há dinheiro e dizem isso é porque não há mesmo. Quando milhares de milhões de euros desaparecem na bolsa devido à queda da mesma, isso é outra mentira, pois sempre que eu perco 1 euro na bolsa, alguém ganha esse euro. O dinheiro nunca é menos, os juros é que são mais e esse dinheiro não é dinheiro em circulação, não é dos 3 a 5% de dinheiro papel, mas sim dos 96 a 97% de dinheiro virtual que existe só em transacções informáticas, pois é esse o dinheiro usado na bolsa, dinheiro que nunca será papel e que nunca estará nas mãos de ninguém de forma palpável.

Ora, a crise é criada no mercado e nota-se na bolsa, dinheiro electrónico "desaparece", os bancos cautelosos por não terem dinheiro para repor deixam de emprestar e ao não emprestar não é criado novo dinheiro, ao não aparecer novo dinheiro as pessoas não podem pagar as dívidas, ao não poderem pagar as dívidas perdem propriedades e a verdadeira crise nasce aqui, a partir da crise virtual criada.

Vocês compraram uma casa que custou 400.000 euros, dinheiro que pediram ao banco e o banco vos emprestou apesar desse dinheiro não existir. Vocês agora vão ter de pagar os 400.000 euros mais juros. Se deixam de poder pagar, ficam sem a casa que passa para propriedade do banco. Casa após casa nas mãos dos bancos é menos dinheiro que os bancos recebem e como os bancos não são imobiliárias, ao receberem bens e não dinheiro, não podem emprestar mais, e se não emprestam mais, não conseguem vender essas casas, e não as conseguindo vender, elas perdem valor e acabam por lhes baixar o preço, de maneira a receberem algum dinheiro. Os bancos acabam de criar uma crise imobiliária para combater a sua crise financeira. As imobiliárias são obrigadas a acompanhar a baixa do valor das propriedades e vender mais barato.

Aqui é giro e irónico, pois as casas das imobiliárias foram compradas pelas próprias ou as vendem em nome de privados e em ambos os casos, foram compradas com créditos e com a queda dos valores, são vendidas a valores inferiores à dívida real com juros. As imobiliárias abrem falência, os privados vendem barato e acumulam a divida velha na divida nova de uma outra casa.

Todo este colapso do mercado, faz com que não se comprem casas novas e ao não comprar não se fazem novos créditos, ou seja novas dívidas e sem novas dívidas não há novo dinheiro criado pelos bancos e os bancos abrem falência.

Se os bancos abrem falência, há empresas que deixam de ter financiamento bancário e fecham, mais desempregados, menos pessoas a pedir créditos, menos dinheiro nos bancos e mais falências pessoais, empresariais e bancárias. É o colapso financeiro.

Isto pode parecer o fim da nossa economia, mas não é, o que isto faz é que existam cada vez mais pobres, pois esse dinheiro está a cair no 1% da população que é rica e que possui já 40% da riqueza mundial. Esses 40% vão crescendo para 50%, 60%, 70%. Dentro de... sei lá várias centenas de anos e devido ao crescimento da população mundial, esses 1% passarão a ser 0,50% ou menos, mas a deter 70% ou 80% da riqueza mundial. Cada vez haverá mais pobres, cada vez haverá menos ricos mas que estarão mais ricos.

O colapso financeiro mundial não é um mito, é uma certeza e esse colapso que poderá ser retardado por várias centenas de anos irá levar a raça humana de volta para uma idade média, após guerras por riqueza, comida, água. Uma espécie de selecção natural que não é natural pois nascerá da maior mentira da humanidade. O dinheiro.


Fontes: Este texto e o anterior tem como base informativa o Zeitgeist Movement, o documentário Zeitgeist, o documento: Modern Money Mechanics, O livro The new money system e When your money fails de Marie Stewart Relfe, o livro Fooling some of the people all of the time de David Einhorn, o documento Europe's New Currency, o documento The european Monetary System 50 years after Bretton woods.

17 Comentários:

  Fada

terça-feira, abril 21, 2009 1:47:00 da manhã

És rápido, deixa-me respirar um bocadinho e dormir um bocadão que já te comento... :p

Mas estou atenta.

Beijitos, até ao próximo comentário... :D

Boa noite!

  Anónimo

terça-feira, abril 21, 2009 2:52:00 da manhã

Li esse livro de David Einhorn e impressionou-me como é "fácil" influenciar o mercado. Uma crise pode nascer na bolsa sem que exista e toda gente irá acreditar que é real, inclusivamente os governos.

  Fada

terça-feira, abril 21, 2009 3:38:00 da tarde

Ora cá estou eu! As I promise...
Em relação a este post e ao anterior, deixa-me tentar ordenar as ideias (não que estejam muito desordenadas) sobre este assunto.

Já vi o Zeitgeist, também, entre outras leituras diagonais de artigos sobre este tema.

1º que tudo, deixa-me dizer: Não gosto deste tema. Não gosto do tema "dinheiro".

O dinheiro foi inventado para não se andar com tudo atrás, nos tempos em que as coisas eram trocadas. Trocava-se trabalho por bens alimentares, por produtos; trocava-se produto por produto.
(Quem quiser espreitar mais, cusque aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dinheiro)
Depois inventou-se o papel-moeda.

Depois, inventaram-se os controladores do papel-moeda.

Depois, começaram os problemas e as crises e as tretas e as mentiras e... etc etc etc... :(

A "crise" não é para todos, a "crise" é para os desgraçados que estão dentro do mecanismo sem que, muitas vezes, se apercebam.
A crise é para a manada, para o rebanho, não é para os lobos, nem para os cães nem para o pastor... Nem para as ovelhas negras que se afastam e a observam quase de fora.

Para mim, o dinheiro é um mal necessário, mas não deixa de ser um "Mal".
E ainda por cima, é um mal que vicia, as pessoas querem cada vez mais dinheiro, afeiçoam-se a bens e valores materiais, em detrimento de valores espirituais.

Eu considero-me "rica", mesmo com uma conta bancária rasteirinha e não tendo um carro nem uma casa em meu nome, considero-me rica pelos bens que tenho: família, amigos, educação, saúde e, acima de tudo, uma quase total liberdade de ser quem sou e fazer o que gosto.

Claro que gostava de ter acesso a determinadas coisas, sejam elas viagens (gostava de ir à Lua), sejam elas acesso à maior biblioteca do Mundo, etc etc etc, coisas que o "dinheiro pode comprar"...

Mas o dinheiro não compra tudo, e sendo um mal necessário, em que ajuda nalgumas coisas, não me compra a felicidade. Não a minha.
Não é o valor da minha conta bancária que me estampa um sorriso no rosto, mas sim coisas simples como ver uma borboleta amarela e branca e rara, ou a minha sobrinha a dizer-me "amo-te, tia", ou até um mail de mimos recebidos logo pela manhã. :)
Posso ser uma "iludida", posso viver na "Utopia", posso não querer conviver de perto com certas coisas, não as ignoro, mas não lhes vou dar mais importância do que a que têm...
Sou assim. :)

Bem, TU fazes-me escrever como se fosse um post, chiçaaaa... :s

Para finalizar, gostei da forma ordenada como fizeste estes 2 posts, dum tema que não me agradando, está muito bem estruturado, e adoraria saber que existe uma solução não sanguinária (como matar uma data de gente que se alimenta das crises, que eu que não sou violenta, às vezes até tenho vontade de andar à paulada :p ) para que este planetinha azul não sofra mais com a estupidez da raça sábia e para que todos se encaminhem para um progresso espiritual e social, e não material como se tem verificado.

Beijitos

  ipsis verbis

terça-feira, abril 21, 2009 4:56:00 da tarde

Isto tudo fez-me lembrar o filme "they live" do Carpenter. E estamos entregues à bicharada.

:)

  I.D.Pena

terça-feira, abril 21, 2009 11:40:00 da tarde

É uma norma, um protocolo inventado pelo homem e agora acho que se deixasse de existir significaria o colapso. Mas de certesa que seria interessante.

  Kohinoor

quarta-feira, abril 22, 2009 12:48:00 da manhã

O que seria de um mundo onde não existisse dinheiro, e as necessidades básicas de cada um fossem satisfeitas? Hummm, sound's like heaven.

Estive a ver os Zeitgeist e gostei bastante da realidade apresentada por eles, acho que é algo que deveria ser mais difundido e tomado consciente pelas pessoas. A propósito, parabéns pelos posts!

Em relação à proposta de solução, acho o projecto Venus com bons princípios, mas demasiado visionário para encaixar neste momento nas crenças das pessoas e nas sociedades.

Como alguém disse, "A felicidade é a progressiva concretização de um ideal que vale a pena".
Se querem forçar a mudança, ainda acontece como no filme Fight Club, rebentam literalmente com a economia! :P

  I.D.Pena

quarta-feira, abril 22, 2009 11:25:00 da manhã

Ipsis , esse filme é altamente! :)

  Bruno Fehr

sexta-feira, abril 24, 2009 7:50:00 da manhã

Fada:

Quando sei o que quero dizer sou sempre rápido.

  Bruno Fehr

sexta-feira, abril 24, 2009 7:50:00 da manhã

Anónimo:

Esse livro também o li, por curiosidade profissional e é um exemplo de como é fácil manipular a bolsa de valores e criar uma crise, mesmo que localizada.

  Bruno Fehr

sexta-feira, abril 24, 2009 7:50:00 da manhã

Fada disse...

"e adoraria saber que existe uma solução não sanguinária (...) para que este planetinha azul não sofra mais com a estupidez da raça sábia e para que todos se encaminhem para um progresso espiritual e social, e não material como se tem verificado."

Existe sim, fazendo uma transição de uma economia de dívida para uma economia sustentada, como por exemplo:

- O antigo método dos bancos terem ouro, no valor do dinheiro em circulação. O problema deste método é que tornará o ouro raro o que poderá gerar outra crise.

- O método económico criado pelos Nazis e o real motivo que levou os EUA para a guerra. Hitler valorizava o dinheiro em trabalho, era a mão de obra que dava valor ao dinheiro, este método ainda hoje se acredita ser o melhor alguma vez criado e exemplo disso foi a recuperação da Alemanha de um país destruído a ter de pagar biliões em danos de guerra a todos os países envolvidos e mesmo assim, ter pago e tornado a Alemanha na maior potencia Europeia ao ponto de ter quase conquistado a Europa.

O método é tão bom, que os Americanos tiveram de o destruir e apagar da história.

  Bruno Fehr

sexta-feira, abril 24, 2009 7:51:00 da manhã

ipsis verbis disse...

"Isto tudo fez-me lembrar o filme "they live" do Carpenter. E estamos entregues à bicharada."

Acho que não vi, mas irei ver.

  Bruno Fehr

sexta-feira, abril 24, 2009 7:51:00 da manhã

I.D.Pena:

"É uma norma, um protocolo inventado pelo homem e agora acho que se deixasse de existir significaria o colapso."

O dinheiro não tem de deixar de existir, só tem de ser criado outro método de lhe dar o valor.

  Bruno Fehr

sexta-feira, abril 24, 2009 7:51:00 da manhã

Kohinoor disse...

"O que seria de um mundo onde não existisse dinheiro, e as necessidades básicas de cada um fossem satisfeitas?"

O dinheiro pode continuar a existir, mas não como existe onde é a divida que o cria.

"Em relação à proposta de solução, acho o projecto Venus com bons princípios, mas demasiado visionário para encaixar neste momento nas crenças das pessoas e nas sociedades."

A ideia é interessante, mas o problema reside na ausência de liderança e sem lideres o ser humano não se organiza. E o poder leva à corrupção e a abusos, é um ciclo vicioso.

Quanto ao filme Fight Club, ele fez com que fossem criadas bases de dados em bunkers :)

  Bruno Fehr

sexta-feira, abril 24, 2009 7:51:00 da manhã

I.D.Pena:

Tenho de ver isso.

  Fada

sexta-feira, abril 24, 2009 10:53:00 da manhã

Depois de me ter desmanchado a rir com as tuas respostas no post da Rainha (sim, és um querido, um simpático, na verdade, deves ser uma verdadeira jóia... :p ), vim espreitar as respostas a este post, agradando-me, em especial, a tua resposta ao meu comentário.

Agora (e não te esqueças que sou uma Fada e não estou na área de política nem economia), explica-me como se eu fosse uma menina de 10 anos, o que é que eu (ou nós, bloggers conscientes da necessidade da mudança), a nível individual podemos fazer para mudar a situação?

Obrigada.

Beijitos :)

  Bruno Fehr

sábado, maio 02, 2009 1:28:00 da manhã

Fada:

Eu sou um querido, mas fervo em pouca água :)

"explica-me como se eu fosse uma menina de 10 anos, o que é que eu (ou nós, bloggers conscientes da necessidade da mudança), a nível individual podemos fazer para mudar a situação?"

Não podemos fazer nada, só o encerramento dessas instituições ou o colapso económico podem mudar a situação.

  Design em Crise

quinta-feira, outubro 08, 2009 6:47:00 da tarde

Parabéns pela matéria. Estava em busca de fontes que explicassem o que é a crise financeira, então encontrei esse teu texto. Esclareceu muito para mim. Tu escreve muito bem, além de me parecer bastante organizado e correto, devido a tua maneira de trabalho. Agradeço por disponibilizar este texto e fique sabendo que o link para ele estará como bibliografia no fim da minha postagem explicativa neste blog que te escrevo. Se puder, dê uma passada lá, se trata basicamente disso, a crise e as maneiras de contorná-la. Patrícia.